Por que as startups falham
Rodrigo Bürgers • out. 20, 2021

Abrir o próprio negócio é um clássico clichê sobre desafios e dificuldades. As estatísticas estão aí para mostrar que o número de empresas que fecham no primeiro ano de vida não é pequeno – e, no caso das startups, fica em torno 21,5%. O dado é da Investopedia, que aponta ainda que 90% das startups acabam não dando certo.


Estruturar uma ideia e criar uma startup já não é um caminho fácil, mas muitas vezes nós não temos a exata clareza de por que as startups falham. Eu mesmo, como empreendedor, fui surpreendido ao longo de um desafio que topei alguns anos atrás, e gostaria de compartilhar neste texto algumas razões não tão óbvias que podem impulsionar o fracasso de uma startup.


Principais motivos que levam as startups a falhar


Ter uma grande ideia não basta para criar uma startup. Na ânsia de resolver um problema e lançar logo o produto (ou serviço), muitos empreendedores deixam de lado questões básicas, como a real necessidade do mercado por esse novo produto.


Segundo uma pesquisa do CB Insights feita com 111 startups que fecharam entre 2018 e 2021, 35% falharam devido à falta de demanda de mercado. Este é o segundo motivo mais comum para o fracasso, ficando atrás apenas das dificuldades financeiras e de levantar capital (38%). Sobre este assunto, aliás, publicamos recentemente um artigo que explica tudo sobre investidores anjo.


Voltando ao estudo do CB Insights, problemas com a escolha da equipe e de precificação são outros dos 12 motivos mais comuns que levam startups a quebrar. Veja a lista completa no infográfico abaixo.

Em minha experiência pessoal construindo uma plataforma que conecta clientes de smartphones com técnicos de manutenção observei cinco empecilhos que podem arruinar o processo de criação de uma startup, sobre os quais falo a seguir.

1. Gestão de tempo e de prioridades


“Estou atolado de trabalho” ou “virei a noite para entregar um projeto” são frases comuns para profissionais de diferentes áreas e níveis hierárquicos, mas, sem sombra de dúvida, elas doem muito mais para o fundador de uma startup. Não é raro vê-lo assumir o papel de desenvolvedor, RH, atendimento ao cliente, CFO… especialmente no começo, quando o único funcionário da empresa é você!


Por mais óbvio que possa parecer, a gestão de tempo e de prioridades é um fator crucial. E isso inclui a compreensão do que vai trazer ganhos no longo prazo. Elementar, não? Mas, na prática, muitas vezes o que acontece é deixarmos de trabalhar em algo estratégico para apagar incêndios – e, embora o impacto disso não seja sentido imediatamente, com o tempo esse modus operandi acaba por atrasar o lançamento de um produto ou serviço e até quebrar o caixa de uma empresa.


A solução é trazer para a mesa as pessoas que tomam as decisões, expor as estratégias de longo prazo versus o que precisa ser feito no curto para a startup crescer e chegar a um equilíbrio. Em outras palavras: balancear o urgente e o estratégico.


Uma combinação de fatores – tais como investimento, complexidade das tarefas e resultados esperados – deve entrar nessa conta para que se chegue a uma definição de prioridades que faça sentido. E, vale lembrar, o que é prioridade no momento de criação da startup pode não ser alguns meses depois, por isso o plano precisa ser revisto de quando em quando.

2. Validação do modelo de negócio e do MVP


Este é um tópico já batido nas discussões sobre por que startups falham, mas, mesmo assim, ainda vejo muitos empreendedores errando. É que, na maioria das vezes, eles optam pela opinião de conhecidos, pesquisas e mais pesquisas para validar sua ideia – o que é ótimo mas, verdade seja dita, nada se compara a colocar um site no ar, vender algo na prática e testar se seu cliente está realmente disposto a investir tempo e dinheiro na sua solução.


Ainda que você se dedique a revisões de como as coisas vão funcionar e tente se proteger de erros ao colocar seu MVP (Minimum Viable Product, ou Produto Mínimo Viável) no ar, a “vida real” nos traz ensinamentos importantes.

Quando comecei a pensar em criar uma startup, não compreendia muito bem o conceito de MVP. Depois de estudá-lo a fundo, acabei percebendo que havia uma desconexão entre o que o conceito representava na prática e aquilo que os outros fundadores da empresa esperavam. Foram muitas rodadas de conversa até mudarmos o escopo do projeto – que, inicialmente, estava previsto para ser entregue em 8 meses e, no fim das contas, teve a primeira versão funcional em 2-3 meses.


O que fizemos foi simplificar o produto, reduzindo investimento e tempo e ganhando agilidade. Posso dizer sem nenhuma dúvida que foi a decisão mais acertada, já que, mesmo com essas reduções, conseguimos validar a proposta de valor.


O segredo é ter flexibilidade e estar preparado para agir rápido em situações não esperadas. Já vi alguns MVPs tão parrudos e complexos que mais pareciam o projeto de lançamento de um foguete! Brincadeiras à parte, ao construir o Produto Mínimo Viável e se deparar com altos níveis de complexidade e/ou investimento, talvez seja o caso de parar e rever estratégias.


Hoje, felizmente, temos à disposição infinitas ferramentas para criar landing pages, formulários online, e outros instrumentos que ajudam no processo de validação. Portanto, não perca muito tempo – nem dinheiro – tentando validar algo que pode não dar certo. Se você se interessou pelo tema, vale a pena ler este artigo da Play sobre Prova de Conceito, ou POC. 

3. Relacionamento com investidores e sócios


Durante minha vivência profissional como empreendedor e consultor de inovação, me deparei com vários tipos de sócios e investidores com posicionamentos diferentes. Desde aqueles que investem o dinheiro e não acompanham a evolução do negócio (acredite, eles existem) até os que fazem questão de colocar a mão na massa e ajudar a tirar ideias do papel.

Para essa relação fluir bem, alinhamento é o único caminho possível. Sabemos que startups envolvem um alto nível de expectativas e de mudanças de rota – nem sempre acompanhadas pelos envolvidos no processo – por isso destaco duas palavrinhas quase mágicas: governança e frequência.


A primeira ajuda a definir as práticas que balizarão a atuação de todos e a gestão da empresa – em suma, o tão desejado alinhamento, que diminui o risco de falhas. E a segunda garante que aquilo que não está funcionando bem possa ser ajustado o mais rapidamente e com o menor nível de prejuízo possível.


Se você se interessou por esse tópico, vale ler também este artigo específico sobre a gestão de pessoas em startups

4. Monetização e geração de receita


Já vi startups sobreviverem um bom tempo sem um modelo de monetização bem definido ou em funcionamento. Assim como já conversei com pessoas que pensam em criar uma startup e, questionadas sobre como pretendem gerar receita, respondem na lata: “simples, vou cobrar uma mensalidade por uso”, ou algo do gênero.


Mas a verdade é que de simples esse processo não tem nada. Escolher o modelo mais adequado para o negócio que se pretende criar é difícil, e uma falha nesse ponto pode impactar diretamente o potencial de crescimento e de retenção de clientes.


Por isso, cuidado: não saber como um determinado produto ou serviço vai gerar valor pode ser um atalho para o fracasso de uma startup. Ainda que você, como eu, já tenha ouvido falar de empreendedores que estabeleceram seus modelos de monetização com o carro em movimento, acredite, é um risco que não vale correr.


Sem ao menos uma estimativa de como e quando a geração de receita virá, o empreendedor pode se perder com mudanças repentinas ou situações atípicas capazes de matar a concretização de uma ideia, por melhor que ela seja. Por isso, a dica é validar diferentes modelos de monetização, testando-os à exaustão e analisando os resultados de maneira objetiva. Manter um acompanhamento constante sobre a previsão para gerar receita e o potencial que se espera atingir é fundamental.

Leia também: A importância do estudo de viabilidade financeira para a inovação

5. Escala e crescimento


Pode até parecer trivial, mas muitas startups falham por não levar isto em conta: o crescimento agrega custos e dificuldades para os quais nem sempre estamos totalmente preparados. Para chegar ao breakeven, quando receita e custos se igualam, muitas startups vão precisar de uma escala maior do que imaginam, mas isso nem sempre está claro para o empreendedor de primeira viagem.


“Quais são as dificuldades e os custos para atingir um nível de escala mínimo sustentável?” é uma pergunta que precisa estar no radar das startups que desejam crescer – ou seja, todas. Por isso, planejar, simular e fazer pesquisas de mercado é fundamental. Ainda assim, no entanto, preciso repetir algo que já disse algumas vezes ao longo desse texto: não se assuste com surpresas e esteja preparado para os imprevistos.


O caminho para criar uma startup não é fácil e, como diz um outro clichê, só quem passa por ele sabe. Por isso, encerro este artigo com algumas dicas que me ajudaram durante meu processo empreendedor e que, embora soem simples, dão pistas de porque algumas startups falham: leia muito, atualize-se sempre e busque outros empreendedores para conversar e se inspirar. Geralmente as pessoas são mais abertas ao bate-papo do que imaginamos, e não há nada mais enriquecedor do que a troca de experiências e de vivências.


Leia também: Os investimentos em startups fundadas por pessoas negras no Brasil e nos EUA

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